Artigo interessante, pela semelhança da região e, principalmente pelas ultimas linhas.
Pequenos provedores apostam na tecnologia para concorrer com as operadoras e, em alguns bairros, tornam-se a única opção -12 de dezembro de 2010
Renato Cruz - O Estado de S.Paulo
Ainda existe muito a ser feito no mercado brasileiro de banda larga e pequenos provedores enxergaram nisso uma oportunidade, partindo para competição com grandes operadoras. Eles resolveram criar sua própria infraestrutura de acesso, com tecnologia via rádio em faixas de frequência que não exigem licença da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em algumas localidades, são a única opção de internet rápida.
Juliana Michele de Oliveira, de 20 anos, mora num bairro afastado do centro de Itapetininga, no interior de São Paulo. Apesar de a Telefônica e a Net oferecerem banda larga na cidade, os serviços dessas empresas não estão disponíveis no bairro de Juliana. Ela trabalha na lavoura. O computador, que ganhou de um tio, é compartilhado com um irmão de 22 anos e duas irmãs, uma de 15 e outra de 18 anos.
Ela é cliente da Zuknet, empresa de internet via rádio. Para que serve a conexão? "Orkut e MSN", responde Juliana, acrescentando que também vê vídeos no YouTube e que seus irmãos às vezes baixam músicas. A conta mensal de R$ 85 normalmente é paga pela mãe, que trabalha na Fazenda Vista Alegre, no cultivo de cana-de-açúcar. Antes de optar pela internet via rádio, Juliana chegou a tentar um acesso via rede celular. "Chegamos a pagar uma conta de R$ 200", diz ela. "E ainda era bem lento."
Sem fio. O sistema de rádio da Zuknet funciona na faixa de 2,4 GHz, a mesma usada pelos roteadores Wi-Fi, normalmente empregada para redes locais sem fio. Dimas Ivanczuk Trackzuk criou seu provedor em 2006. Antes disso, trabalhava como professor universitário.
"Nós chegamos onde não tem ninguém", afirma Trackzuk. "Em determinados bairros, eu posso chegar com pacotes de R$ 100 que tem demanda." A Zuknet tem uma conexão de 30 megabits por segundo (Mbps) da Telefônica, que utiliza para atender cerca de 1,5 mil clientes. A empresa instalou 29 antenas repetidoras para cobrir a cidade de Itapetininga.
O pacote mais barato da Zuknet, com velocidade de 256 quilobits por segundo (kbps) custa R$ 49,30. Pode parecer pouco ante as conexões de 2 Mbps oferecidas pelos concorrentes, teoricamente oito vezes mais rápidas. Mas Trackzuk afirma garantir, em contrato, pelo menos 98% da banda contratada, enquanto o normal dos concorrentes é garantir 10%.
Não é o caso da Zuknet, mas existem provedores que contratam uma banda larga comum da operadora, de uso individual, para redistribuir o sinal aos seus clientes.
A internet via rádio é a tecnologia presente em mais municípios do País. Apesar disso, sua participação de mercado é pequena. Segundo a consultoria Teleco, existem cerca de 580 mil acessos de rádio, num total de 12,8 milhões.
"As operadoras estão sempre focadas no filé mignon", diz Eduardo Parajo, presidente da Abranet, associação dos provedores. "Os provedores criam alternativas concorrenciais importantes."
Uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil apontou que 14% das residências com acesso à internet são atendidas via rádio. "Os pequenos empreendedores estão animados", afirma Milton Kashiwakura, diretor do Comitê Gestor. "Muitos dizem que a situação é temporária, porque a operadora chega e os empurra para mais longe."
Licença. A Zuknet tem como parceira a empresa Complexus Objectus, de Sorocaba (SP). A Complexus Objectus tem uma licença da Anatel, para o chamado Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), que dá a ela o direito de operar serviço de dados.
A Zuknet não tem essa licença, e as duas companhias oferecem acesso à internet em conjunto. Esse formato criou problemas com fiscais da Anatel em São Paulo para a empresa. "Estamos totalmente de acordo com a lei e a regulamentação", garante Onei de Barros Jr., sócio-diretor da Complexus Objectus. A empresa tem parceria com 15 provedores de acesso.
Barros chegou a entrar com uma representação junto ao Ministério Público Federal contra a Anatel. A agência informou que abriu um processo administrativo contra as empresas e que a Polícia Federal de Sorocaba instaurou um inquérito sobre o assunto.
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